As éguas de primeira cria ou aquelas com histórico
reprodutivo problemático devem inspirar maiores cuidados; algumas vezes os seus
instintos maternos são despertados somente depois que ela vê e cheira o potro
recém-nascido. Entre as éguas que tenham tido outros partos e criado potros sem
problemas, o número de riscos diminui muito.
Se uma égua chega à propriedade já prenha, é importante descobrir detalhes
sobre o seu histórico reprodutivo: quantos potros já teve, a que tipo de maneio
era submetida na altura do parto, etc. Alguns criadores adoptam a prática
(errônea na opinião da maioria dos autores) do parto assistido, em que
auxiliares traccionam o potro, o secam, cortam o cordão umbilical etc., sem dar
tempo para que estes eventos se processem naturalmente. Uma vez habituada a
este maneio, a égua poderá ter dificuldades ao parir sozinha.
É preciso verificar a presença de vulvoplastia, cirurgia correctiva em que os
lábios da vulva são costurados, e que exige uma incisão no momento do novo
parto.
Os sinais visíveis do parto iminente incluem a flacidez dos músculos da garupa,
o inchaço do úbere, e o relaxamento progressivo da vulva. Estes sintomas podem
variar, algumas éguas ficam com o úbere cheio por duas semanas, enquanto outras
parem de um dia para outro com ausência de sinais prévios. A presença de
"cera" nas tetas, pequenas gotículas solidificadas de secreção,
costuma dar-se nas últimas 24 horas antes do parto. O melhor é começar a
acompanhar a égua quando ela tiver completado onze meses de coberta, tanto para
que o responsável "acostume o olho" às alterações do animal, quanto
para habituar a égua à presença daquela pessoa. O observador deve ser calmo e
discreto, interferindo apenas em último caso. Quando realmente se deseja
acompanhar o parto, é necessário verificar de hora em hora, especialmente entre
as dez da noite e as quatro da manhã.
Algumas éguas apresentam relativo desconforto, dois a três dias antes do parto,
o que está relacionado com a rotação do potrinho no útero, à medida em que ele
adopta o posicionamento definitivo para o trabalho de parto. A égua poderá
sentir dores durante três ou quatro horas, e depois retornar ao normal de um
minuto para outro, como se nada tivesse acontecido. Esta ocorrência não deve
ser motivo de preocupações, porém é preciso diferenciá-la da interrupção do
verdadeiro trabalho de parto, quando o primeiro estágio não é seguido do
segundo. Isto pode acontecer em casos de mal-posicionamento fetal, ou ainda se
as contracções forem insuficientes.
O melhor critério para avaliar se o parto está a decorrer da maneira normal é a
passagem do tempo. Depois de rompidas as bolsas, por vezes rompem-se durante o
parto, as pontas dos cascos devem surgir em meia hora no máximo, e a partir
daí, cabeça e tronco do potro deverão estar exteriorizados em uns quinze
minutos. Dores muito intensas por parte da égua, com esforço expulsivo
improdutivo, são um sinal de que algo pode estar errado. A apresentação
correcta é sempre dos dois cascos das mãos com as solas para baixo, logo
seguidas do focinho. A apresentação diferente (apenas uma mão, um ou dois
cascos com a sola para cima, focinho antes dos cascos, etc.) é sinal de um
parto distócico; neste caso, a sobrevivência do potro depende da pronta
intervenção do médico veterinário. Alguns mal-posicionamentos fetais podem ser
corrigidos manualmente pelo profissional, especialmente se forem precocemente
diagnosticados. Uma percentagem muito pequena exigirá medidas mais drásticas,
como cesariana ou fetotomia.
Se o potro nascer extenuado ou fraco – por exemplo, após trabalho de parto
prolongado – a cabeça dele pode ficar recoberta com as membranas da placenta,
com risco de asfixia. Neste caso o observador deve intervir, rompendo as
membranas com os dedos da mão, e limpando as narinas do potro. Medidas de
ressuscitação incluem a infusão de ar (soprando nas narinas), e fazer massagem
torácica. A égua deve ser encorajada a lamber e se comunicar com o potro.
A atitude do observador deve ser de total passividade, interferindo apenas
quando houver algum problema. Nos dias anteriores ao parto, ele deverá ter
habituado a égua à sua presença, porém sempre mantendo distância confortável
para o animal. Esta passividade deve prosseguir nas primeiras horas após o
parto, pois todos os eventos que ali se passam são essenciais para o potrinho,
quando ele aprende a identificar a mãe, a princípio pelo cheiro, depois também
por audição e visão. Qualquer interferência irá atrapalhar este processo,
ameaçando a sobrevivência do novo ser. É importante resistir a ajudar o potrinho
a levantar pela primeira vez, e a localizar o úbere da mãe. Tudo isso pode
repercutir negativamente no comportamento futuro do potro, além de irritar a
égua, que sem querer pode magoar o potrinho.
Considerando que a maioria das éguas pare no início da madrugada, no meio da
manhã o potrinho já deverá estar seco, seguindo a mãe, e mamando sem maiores
dificuldades. Neste ponto, poderão ser tomados alguns cuidados básicos como
desinfectar o coto umbilical com uma solução iodada. Se a égua pariu a pasto, pode
ser conduzida para a cocheira, tarefa para duas pessoas: uma levando a égua,
outra delicadamente conduzindo o potro, o que é melhor feito abraçando-o do
tórax até a garupa, e assim o encorajando a andar. Quanto mais os outros
procedimentos importantes – por exemplo, lavar cauda e períneo da égua –
poderem ser deixados para o dia seguinte, quando a égua já estiver mais calma e
o potrinho mais coordenado.
A ingestão do colostro, idealmente logo na primeira hora após o nascimento e no
máximo durante as primeiras 24 horas de vida, é essencial para a sobrevivência
do potrinho, pois fornece os anticorpos que são responsáveis pela imunidade
activa do organismo. O colostro também tem propriedades laxantes que favorecem
a expulsão do mecônio, que são as primeiras fezes do potrinho, formadas durante
a vida intra-uterina.
Caso haja retenção de mecônio, o principal sintoma é cólica, com o potrinho de
abdômen distendido e cauda erguida. Alguns criadores, aplicam um
"clister" à base de vaselina líquida, para facilitar a expulsão
destas fezes, que são escuras, de partículas duras e esféricas. Diferente das
primeiras fezes resultantes de ingestão de colostro que podem ser mais moles e
amareladas, porém tendem logo a se assemelhar àquelas dos cavalos mais velhos.
Durante o cio do potro, que as éguas apresentam no nono dia após o parto,
alguns potros ficam com diarréia, a qual se relaciona às alterações hormonais
reflectidas no leite produzido.
Duas horas após o parto, o potrinho deve estar em pé e mamando. Um potro anormalmente
fraco pode levar mais tempo, ou não conseguir andar e mamar sem ajuda. Se
quatro ou cinco horas após o parto o potrinho ainda estiver deitado, o
profissional veterinário deve ser avisado, para melhor examinar mãe e filho e
indicar o procedimento mais adequado.
Algumas éguas primíparas (de primeiro parto) podem ter um úbere muito sensível,
resistindo às tentativas de mamar do potro, por sentirem dor ou cócegas. Isto
pode cumular numa completa rejeição do potro se decorrerem muitas horas,
enquanto o úbere vai ficando mais inchado. O mesmo pode acontecer se o potrinho
se desgarrar da mãe, por exemplo, passando por baixo da cerca do piquete. No
princípio, a contenção da égua durante a primeira mamada do potro, e depois a
apresentação cautelosa de ambos, pode resolver a rejeição, entretanto, a mesma
pode se tornar permanente, exigindo que o potro seja manejado como órfão. A
observação à distância da égua primípara, especialmente se ela for nervosa, é a
melhor prevenção, colocando-a numa baia ampla, ou num "padock" bem
cercado, onde ela se sinta segura.
A égua deve expulsar a placenta uma hora após o parto. A mesma tem a aparência
de um saco rosado, de consistência bastante firme, e reproduz os contornos
internos do útero. É praxe examiná-la para verificar se foi completamente
expulsa, ou se algum pedaço permaneceu no útero. A retenção de placenta
compromete muito rapidamente a saúde e a fertilidade futura da reprodutora,
exigindo atenção veterinária imediata. Uma consequência frequente da retenção
de placenta é a laminite – inflamação dos cascos relacionada à toxemia
provocada pela infecção uterina, e que pode ter consequências fatais.
Égua e potro devem ser deixados num "padock", sozinhos ou com o
animal de companhia da égua, por cerca de uma semana ou dez dias, quando então
poderão ser misturados ao resto do grupo. Sempre é bom evitar a presença de
potros bem maiores ou de outros animais brincalhões ou agressivos. Se houver
outras éguas que tenham parido na mesma semana, elas poderão ficar juntas desde
o início. É aconselhável observar o grupo durante as primeiras horas, para ter
certeza de que não haverá agitação desmedida.